Total de visualizações de página

quarta-feira, 12 de junho de 2013

JEAN JACQUES ROUSSEAU


JEAN JACQUES ROUSSEAU
                       O século XVII tinha vista o triunfo completo da Monarquia, que se concentrava na Côrte e controlava toda a vida política, intelectual e artística da França. Mas o século seguinte preparou o desmoronar da Monarquia e a Revolução.
                        O luxo desenfreado do Rei e da Côrte contrastava cruelmente com a miséria do povo; o absolutismo do soberano e a avidez dos cortesões tinham provocado um descontentamento geral e um desejo de reformas políticas e sociais. O progresso no campo das ciências e a difusão da cultura tinham despertado o espírito crítico. Assim, uma corrente de ceticismo começava a minar e a demolir as idéias sociais e religiosas, impostas até então pela tradição. 
                        Filósofos e literatos atacavam o clero, que, infelizmente, em muitas ocasiões, se demonstrava superficial e intolerante. Também na literatura, a autoridade indiscutível dos clássicos era repelida e sustentavam-se, ao invés, os direitos do sentimento sobre a razão e o regresso à natureza. Verificava-se, enfim, uma gradual e profunda transformação dos gostos e das opiniões. 
                        Naquele século de reviravoltas, que se concluiria com a Revolução Francesa, a obra dos literatos e filósofos contribuiu de maneira decisiva para transformar a velha sociedade. Entre os escritores do século XVIII, Rousseau, em companhia de Voltaire, teve uma importância predominante; suas idéias impuseram-se, exercendo enorme influencia e cooperaram não apenas para destruir as velhas instituições, mas também para criar novas e melhores. 
                        Jean Jacques Rousseau nasceu em 1712, em Genebra, de uma família protestante, de origem francesa. Certamente,as circunstâncias de sua juventude aventurosa e agitada influíram de maneira decisiva sobre a vida e o caráter do filósofo. 
                        A morte prematura da mãe e o desleixo do pai, bem cedo deixaram-no entregue a si mesmo. As leituras desordenadas e precoces habituaram-no a viver mais no reino da fantasia do que na realidade. 

                        Não tinha ainda dezesseis anos, quando, uma noite, de volta de um passeio, tendo encontrado as portas da cidade fechadas, resolveu abandonar Genebra e foi encontrar asilo junto a um sacerdote católico. Este encaminhou-o à Madame Warens, que se ocupava em receber e mandar instruir os protestantes desejosos de conversão.  E, por ela, Rousseau foi enviado a Turim, para ali receber a preparação religiosa e o batismo. 
                     Tendo ficado, depois, sem recursos, durante vários anos perambulou de uma cidade à outra, sempre procurando ganhar a vida com as mais diversas ocupações. De quando em quando, encontrava refúgio em casa de sua protetora. Na casa de campo que esta possuía, o rapaz pode gozar de serenidade; em contato com a natureza, pode instruir-se, lendo com avidez e estudando latim, história, matemática, física e música. Mas, sobretudo, frequentando as pessoas cultas, que se reuniam em torno de Madame de Warens, Rousseau aprendeu a observar a própria consciência, a procurar a razão e o objetivo de suas ações.

            Lá pelos trinta anos, desejoso de tornar-se conhecido, partiu para Lyon e, sucessivamente para Paris, na esperança de obter êxito e celebridade. Sua oportunidade apareceu em 1750; a Academia de Dijon havia instituído um curso sobre o tema: "Se o Renascimento das Artes e das Letras tinha contribuído para sanear os costumes." Rouseau apresentou-se com um um discurso repleto de ardor e convicção, que revelou a força de sua eloquência. Baseando-se em sua própria experiência, ele sustentou que o progresso, ao invés de melhorar os costumes, corrompe-os. Certamente o escritor pensava nos anos transcorridos em Paris, ávido de glória e resolvido a obtê-la por todos os meios; comparando este período com a feliz mediocridade, com a vida pia e virtuosa que abandonara, concluiu que a mesma coisa acontece a toda a humanidade. As artes, a riqueza encorajam novos vícios, criam desigualdades, afastam-nos da perfeição, que consiste na vida simples e modesta. 
              Em 1754, a mesma Academia  propôs outra questão: "Sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens." Rouseau apresentou outro discurso, que o tornou célebre e provocou uma vasta onda de comentários. O filósofo quis demonstrar, de maneira mais persuasiva, que as desigualdades são o fruto da civilização. Ele pensava na fome, nas inúmeras misérias que encontrara em sua vida aventurosa e que ele mesmo experimentara; suas convicções são, por isso, ditadas por um sentimento profundo. Defendeu a tese de que os homens  foram livres, enquanto viveram no estado natural, como no princípio da criação; mas, quando começaram agrupar-se, a constituir um sociedade organizada, surgiram as desigualdades, o desejo de possuir, a avidez de riqueza e o domínio de alguns em prejuízo de outros.  Naturalmente, Rousseau estava certo de que, para viver segundo seus princípios, a humanidade não podia voltar ao estado selvagem e destruir toda a organização social; por isso, ele ensinava a procurar a felicidade na vida simples dos campos, em contato com a natureza, sem deixar minar-se pela vaidade da riqueza e da glória. Cheio de fé naquilo que defendia, pôs em prática seus princípios, retirando-se para a solidão e trajando-se no modo mais modesto. Mais tarde, em uma célebre "Carta", de 1758, Rousseau, que também escrevera peças teatrais, afirmou com grande vigor que o teatro serve apenas para divertir, não para educar os homens; os autores, a fim de corresponder ao gosto do público, põem à mostra os vícios e a paixões humanas e, então, os exaltam, ao invés de corrigi-los.
              Todas estas afirmações, mesmo não sendo de todo novas, estavam em flagrante contraste com as opiniões  correntes do tempo e da sociedade em que ele vivia; despertaram, portanto, enorme interesse e tiveram grande influência sobre a opinião pública.
               Resolvido a considerar suas convicções como regras práticas de vida, o escritor abandonou Paris. Aceitando a hospitalidade de Madame d'Épinay,uma rica  e brilhante dama parisiense, em abril de 1756, foi estabelecer-se no vale de Montmorency, em um castelo chamado "L'Ermitage", a poucos quilômetros da capital. Ali ele podia viver mais próximo da natureza, gozar das belezas dos campos e dos bosques, ver o renovar das estações, ouvir a música da água e dos pássaros. E, naquela serena solidão, preparou suas obras mais importantes. 
               A primeira obra, escrita logo no início de seu autoexílio, foi o romance "Nova Heloísa". É uma romântica história de amor, em forma epistolar, que se desenvolve tendo como cenário o lago de Genebra. Um jovem preceptor ama ardentemente a filha do senhor junto ao qual vive e é correspondido. Mas o pai de Júlia quer entregá-la a um fidalgo russo, não desejando que ela despose um homem de origem humilde e sem bens de fortuna. Os dois namorados devem renunciar à sua paixão; Júlia, por obediência aos pais e pelo sentimento de dever, sacrifica seu amor, mas encontra consolo e paz no cumprimento de seus deveres de esposa e mãe. 
                  A primeira parte do romance descreve a ansiedade de um amor infeliz e impossível; a segunda parte, ao invés, representa a serena felicidade de Júlia, ao lado de um marido  honesto e inteligente, entre seus filhos, em uma vida cômoda e rica, mas simples. Os dois cônjuges vivem em suas propriedades; administrando-as com sabedoria, sentem-se  satisfeitos e tornam satisfeitos quem vive  a seu lado. O romance é, portanto, uma exaltação da vida familiar, uma lição de moralidade, no meio de uma sociedade corrupta; ensina a procurar o consolo e a felicidade na paz da consciência, segundo a noção e do dever e os sentimentos mais nobres. 
                      O livro alcançou sucesso extraordinário; foi procurado e lido avidamente em toda a França. Neste romance, Rousseau exprimiu, certamente, os sonhos, os ideais de sua alma plena de ardor e de sentimento. É a imagem de uma vida simples, feliz, honesta, que ele teria desejado viver e que não pôde jamais conseguir. Enfermo, inquieto e desconfiado, Rousseau afastara-se de seus amigos, os quais não compreendiam seu desejo de solidão, sua decisão de abandonar Paris, e o atormentavam com censuras e conselhos. Ao deixar "L'Ermitage" em 1757, o escritor foi morar em um casebre um pouco distante dali, onde compôs um tratado de pedagogia: "Emílio", ou "Da Educação".Esta obra, mais do que todas as outras, está ligada à celebridade do filósofo genebrino. 
Parece estranho que um homem crescido sem guia, autodidata, possa ter-se tornado um célebre pedagogo. Entretanto, é lógico; em "Emílio", Rousseau vê o menino que ele poderia ter sido, e descreve a educação que teria desejado para si mesmo. 
           Este livro começa com uma afirmação ousada e categórica: "O homem nasce naturalmente bom, é a sociedade que o corrompe". Partindo dessa premissa, o autor deriva todas as consequências. Emílio receberá uma "educação negativa", que consiste em deixar agir as forças naturais do corpo e do espírito, sem imposição de livros, de regras, de castigos. Basta deixar  agir a natureza; a curiosidade espontânea o levará a observar,  interessar-se, a desejar aprender e fazer. O professor  deve limitar-se a eliminar os obstáculos. Primeiro, Emílio aprenderá a ler, a escrever, a contar, porque compreende que isso é cômodo e útil. Também, a seguir, a educação positiva consistirá em orientá-lo para observar, para refletir. Quanto à educação do caráter, Rousseau defende o princípio das consequências naturais; o menino se corrige de sua obstinação, dos caprichos, de suas leviandades, porque deverá sofrer as consequências.  Somente aos quinze anos Emílio conhecerá a vida social, moral, religiosa e a cultura sistemática. 
                      As teorias de Rousseau são expostas em Emílio não em tom catedrático, mas com a aprazível narração de um romance; elas contém princípios já afirmados por outros pedagogos ingleses e franceses, mas o autor conduz tais princípios às extremas consequências, aplicando-os integralmente no seu sistema educativo. Rousseau sabe muito bem que não se pode, na prática, seguir à letra seu ideal de educação; nem todos os meninos são felizes como Emílio, que é criado entre as belezas da natureza, por um mestre genial, que se dedica completamente à sua educação. Aquilo que Rousseau deseja compreendido e reconhecido são a verdade e a bondade de seu sistema. Neste sentido, realmente, a obra foi compreendida e lida com admiração, mesmo por quem não se interessava diretamente por crianças. Depois de então, todas as teorias pedagógicas aprenderam a levar em consideração a natureza  da criança, a respeitar-lhe e secundar-lhe a personalidade. Emílio tornou-se uma das obras pedagógicas fundamentais. 
              Tratando da educação religiosa, Rousseau expusera suas convicções na famosa "Profissão de Fé do  Vigário de Saboia", que provocou uma onda de lástima e indignação. Emílio deve aprender que existe Deus, a alma e a lei moral. Seu preceptor ensina-lhe que a orientação mais certa, quanto à virtude e à verdade, é a voz da consciência, que nos indica os nossos deveres. Mas o filósofo acrescenta que todas as religiões se equivalem e, portanto, são inúteis, porque a única verdadeira religião é a religião natural; a voz interior, que fala de Deus, diretamente, à alma do homem. Estas assertivas parecem, desde logo, como verdadeiras e próprias heresias. O autor publicara-as abertamente e foram consideradas um desafio às autoridades religiosas. O livro foi queimado publicamente em Paris, e em Genebra; o escritor sofreu condenações  e perseguições; para fugir a estas, precisou procurar refúgio de um ponto a outro da Suíça e da França e, felizmente encontrou asilo na Inglaterra. Felizmente a Inquisição já não tinha mais a força de outrora. Em outros tempos teria sido sumariamente queimado vivo. 
                 Mas as desventuras e o recrudescer de sua mania de perseguição tornaram-no sempre mais desconfiado e irritadiço, de maneira que rompeu também com as amizades inglesas e, ao voltar à França, passou a morar outra vez em Paris. Finalmente, em 1778, o Marquês de Girardin ofereceu-lhe hospitalidade em suas terras de Ermenonvile, ao norte de Paris. Ali morreu Rousseau e foi enterrado no parque do castelo.  
                       Rousseau foi um precursor em todos os campos da Revolução, à qual dedicou sua obra de escritor. Como romancista, abriu caminho ao romantismo, despejando em seus livros o fogo dos mais apaixonados sentimentos. 
                         Como pedagogo, lançou as bases da moderna ciência da educação, que estabelece como centro do problema pedagógico a criança, com sua natureza e seus interesses. 
                 Na política, é considerado como um dos homens que mais contribuíram para preparar a Revolução Francesa. Entretanto, as ideias políticas do escritor, consubstanciadas especialmente no "Contrato Social", mais do que uma revolução demonstram que ele desejava reformas. A natureza de Rousseau, na verdade, era contrária a toda e qualquer sublevação  violenta e sangrenta, pois até chegara a respeitar a santidade da lei. 
                    Rousseau revelou a si mesmo, nas "Confissões". Ele começou  a escrever, a pedido de um editor, a narração de sua vida e nesta obra, com uma sinceridade impiedosa, descreve-nos todas as suas faltas e todos os seus defeitos. Não receia aparecer-nos qual é: inquieto, sonhador, instável na vida e na fé religiosa, atormentado por saúde precária e perturbações de caráter que chegaram até a manias. Tal a sua sinceridade. Mas as incoerências e os defeitos do homem não diminuem em nada, porém, a grandeza do penamento do filósofo e da obra do escritor. 
                     Seu maior mérito consiste em haver sempre preconizado o "retorno à natureza", contra uma sociedade artificiosa e corrupta, e ter sempre sustentado a nobreza da natureza humana. 

                                                      OBSERVAÇÕES FINAIS
                         O homem moderno continua perdido no seu tempo e preso ás paixões religiosas e políticas que tanto o escraviza. A liberdade, sempre almejada e nunca alcançada, a cada dia, fica mais distante. 
                         Apesar dos exemplos trazidos pela Revolução Francesa, continua utilizando a lei para impor a vontade de alguns poderosos e espoliar os menos favorecidos. A democracia tornou-se instrumento para garantir esse poder com continuidade vitalícia.
Desde criança, Rousseau revelou um temperamento resoluto e uma natureza indomável, que o tornaram sempre mais independente, também porque, desde menino, foi frequentemente entregue a si mesmo. 
Com apenas 12 anos, foi trabalhar em Genebra, junto a um gravador; mas, depois de desenvolver esta atividade, enquanto retornava à sua cidade, ao entardecer de um dia festivo, encontrou as portas fechadas. Sem meta fixa, afastou-se dali definitivamente. 
Depois de seus famosos discursos, entre os quais aquele "Sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens", para por em prática as ideias que defendia, Rousseau abandonou os trajes bordados, a peruca e a espada, que eram os ornamentos da nobreza, para envergar os trajes das pessoas de modesta condição social. 

Rousseau transcorreu um período realmente feliz, na mansão "L'Ermitage", que surgia em um local encantador, rico de prados e de bosques, onde ele pôde escrever suas melhores obras; realmente, vivendo sempre em contato com a natureza, nesta encontrou os elementos necessários para traçar o personagem protagonista de seu mais famoso livro: Emílio. 
Emílio ou Da Educação, é a obra mais famosa de Jean Jacques Rousseau. É um romance pedagógico, em que o autor  fixa os princípios da educação natural segundo os quais deve ser criada a criança.  
Em 1762, o governo francês manifestou-se decididamente contrário aos escritos de Rousseau e vetou, especialmente, a publicação de Emílio, o romance pedagógico em que o autor expõe suas próprias ideias sobre a educação natural da criança, revelando-se, de tal forma, um precursor daqueles ideais que levaram o povo francês à Revolução.  
Nas "Confissões", Rousseau revela que, ainda criança, muitas vezes passava noites inteiras lendo em companhia de seu pai, e ambos se comoviam até derramar lágrimas, perdendo a noção do tempo.  
A Nova Heloísa. 
A protagonista feminina do romance, Júlia, que para não contrariar o pai, renunciou ao amor de seu preceptor e casou-se com um fidalgo, dedicando toda sua vida à família. Apesar de não corresponder ao amor de seu marido, Júlia, na tranquilidade doméstica, encontra a serenidade e o sossego. 


Nicéas Romeo Zanchett 
.
Conheça a obra literária do Romeo > http://livrosdoromeo.blogspot.com.br









                      
                         
                         


sábado, 23 de março de 2013

MÁXIMAS por La Rochefoucauld


                              MÁXIMAS por La Rochefoucauld
Biografia - O duque  Francisco de La Rochefoucauld, príncipe de Marcillac, escritor  francês, nasceu em Paris a 15 de Setembro de 1613. Aos 16 anos assentou praça no exército e durante algum tempo ajudou na côrte Ana de Áustria nas suas intrigas contra Richelieu. Despeitado por não ter tido promoção alguma tomou parte na Fronda, e bateu-se no cerco de Paris e na batalha  do Faubourg Saint Antoine (1652), sendo gravemente ferido na cabeça. Em consequência da sua participação na Fronda foi banido para os seus estados em Verteuil  e só em 1659 lhe permitiram voltar à corte. Morreu em Paris a 17 de Março de 1680. Deve a sua celebridade literária às suas  "Reflexões ou Sentenças e Máximas" e às suas "Memórias da Regência de Ana de Áustria (publicados clandestinamente em 1662), em que faz uma narrativa simples, mas magistral, dos acontecimentos políticos do seu tempo. 
Nicéas Romeo Zanchett
SUAS MÁXIMAS: 
- O desejo de parecer hábeis muitas vezes nos impedem de o ser. 

- Pessoas há tão conscientes da sua fraqueza que fazem da fraqueza fôrça. 

- Poucas pessoas têm consciência de todo o mal que fazem. 

- Muito teríamos que nos envergonhar das nossas melhores ações, se se soubessem os motivos que tivemos para praticá-las. 

- Tão difícil é quase pôr em prática bons conselhos como proceder sem eles. 

- As qualidades que temos não nos tornam nunca tão ridículos como os que imaginamos ter.

- Diga-se o que se disser, o interesse e a vaidade são a causa habitual das nossas aflições. 

- Há na aflição várias espécies de hipocrisia; choramos para passar por sensíveis, choramos para que se tenha dó de nós, choramos para que chorem, choramos até para evitar o escândalo de não chorar. 

- Entramos sempre noviços nas diferentes idades da vida, e sem experiência, embora tenhamos tido muitos anos para adquiri-la.

- A idade não dá necessariamente experiência, nem a dão mesmo os preceitos, nem a dá nada senão a prática e conhecimento das coisas. Por isso muitas vezes  vemos aqueles que não tiveram ocasião de dar curso às suas paixões juvenis na mocidade, entregar-se a elas desenfreadamente em anos  já serodios com todos os sintomas com todos os sintomas da mocidade menos a capacidade. 

- Tão leviana é a maneira porque se julgam as coisas  que as ações e palavras banais ditas e feitas de certa maneira, com certo conhecimento do que vai pelo mundo, granjeiam muitas vezes êxito muito maior que grandes capacidades. 

- Facilmente esquecemos os crimes que somos os únicos a conhecer. 

- Por mais que desconfiemos da sinceridade dos outros, acreditamos sempre que essas pessoas serão mais sinceras conosco que com os outros. 

- Poucas coisas há de si mesmas irrealizáveis; se os homens não as alcançam é mais por falta de aplicação que de meios. 

- Em todas as profissões, cada qual trata de parecer o que quisera que o julgassem; por isso se pode dizer que o mundo não é feito senão de aparências.

- A astúcia e a traição procedem da falta de capacidade. 

- Se nos esforçamos tanto por ser o que deveríamos ser como nos afoitamos por disfarçar o que somos, bem poderíamos deixar-nos ser tal como somos e poupar-nos o trabalho de qualquer disfarce. 

- Quando os grandes homens se deixam abater pelo infortúnio, descobrem que os sustentava a fôrça da sua ambição e não a da sua inteligência. Descobrem também que dado o desconto de um pouco de vaidade os heróis são exatamente como os outros homens. 

- Todos gostam de retribuir os pequenos favores, alguns chegam a reconhecer os moderados, mas é raro encontrar alguém que não retribua os grandes com ingratidão. 

- Os homens muitas vezes imaginam que dirigem quando  são dirigidos, e quando o nosso espírito deseja uma coisa o coração insensivelmente gravita para outra. 

- No amor há duas espécies de constância: uma vem de encontrarmos constantemente no objeto do nosso amor novas razões para amá-lo, a outra de timbrarmos em ser constantes. 

- Nos infortúnios tomamos muitas vezes o abatimento por constância; sofremo-los sem nos atrevermos a encará-los, como os covardes se deixam matar sem resistência. 

- Ninguém receia tanto o desprezo do próximo como os que costumam desprezar os outros. 

- Receamos sempre aparecer diante da pessoa que amamos depois de ter estado a galantear outra. 

- É tão fácil enganar-nos a nós mesmos sem darmos por isso, quanto é difícil enganar os outros sem que eles o percebam. 

- Em amor o engano excede quase sempre a desconfiança. 

- Muitas vezes sofremos menos sendo enganados que não o sendo por aqueles a quem amamos. 

- Gostamos sempre muito mais dos que procuram imitar-nos que dos que procuram igualar-nos. A imitação é uma prova de estima, a competição de inveja. 

- O ciume é de alguma maneira racional e justo - tem em vista preservar um bem que nos pertence ou que pelo menos nós julgamos que nos pertence, ao passo que a inveja é um frenesi que não nos deixa suportar o bem que os outros possuem. 

- Se conhecêssemos perfeitamente todas as coisas, nenhuma desejaríamos ardentemente. 

- Preferimos ver a quem fazemos benefícios a ver aqueles de quem os recebemos. 

- Tanto nos acostumamos a disfarçar-nos para os outros que afinal não nos podemos reconhecer a nós mesmos. 

- Os que se aplicam muito a coisas pequenas geralmente tornam-se inaptos para as grandes. 

- Quem não está satisfeito consigo mesmo em em vão procura a satisfação fora de si. 

- É mais fácil parecer apto para os empregos que não ocupamos que para os que ocupamos. 

- vangloriamo-nos muitas vezes das mais criminosas paixões; mas a inveja é tão vergonhosa que nunca ousamos vangloriarmos dela. 

- Antes de cobiçar alguma coisa é bom indagar se quem a possui é feliz. 

- A inveja desaparece  pela verdadeira amizade e o galanteio pelo verdadeiro amor. 

- A nossa inveja sobrevive à felicidade daquele que a provocou. 

- Não ousamos dizem em público que não temos defeitos e que os nossos inimigos não tem nenhuma qualidade boa, mas em particular é essa a nossa opinião.

- Vangloriamo-nos dos defeitos exatamente opostos aos que nós realmente temos; assim é que os irresolutos se orgulham de que os tomem por obstinados.

- Não há nada mais contagioso que o exemplo: nunca um grande bem ou um grande mal deixa de provocar outro igual. Imitamos as boas ações por emulação e as más por certa malignidade da nossa natureza, que a vergonha fazia esconder e o exemplo liberta.

- Os nossos defeitos tornam-nos muitas vezes mais agradáveis que as nossas qualidades. 

- Os maiores defeitos são os dos grandes homens. 

- Facilmente desculpamos os defeitos dos nossos amigos quando eles nos não afetam. 

- Poucos covardes conhecem a grandeza de seus pavores. 

- Pouco prazer nos estaria reservado se tivéssemos que não nos lisonjearmos nunca. 

- Quem viveu sem fazer loucura alguma não é tão sensato quanto imagina. 

- Quanto mais velhos mais insensatos e mais cordatos a um tempo nos vamos tornando. 

- Quaisquer que sejam as diferenças que a sorte reserve aos homens há sempre uma compensação entre o bem e o mal que faz todos iguais. 

- A sorte indeniza-nos de muitos erros de que a razão não conseguiria indenizar-nos. 
  
- A fortuna é sempre cega para aqueles a quem não concede os seus favores. 

- Deveríamos tratar a sorte como a saúde, gosá-la quando boa, ter paciência quando má, e não aplicar-lhe nunca remédios violentos senão em caso de necessidade.   

- A razão que nos faz ser tão volúveis nas nossas amizades é ser difícil conhecer as qualidades do coração e fácil as do cérebro. 

- É um erro imaginar que só as paixões violentas como a ambição e o amor podem triunfar das outras. A preguiça, lânguida como é, muitas vezes as domina todas. É na realidade ela que dirige todas as nossas ações e desígnios e insensivelmente destrói a um tempo as paixões e as virtudes. 

- É mais desonroso desconfiar de um amigo do que ser enganado por ele. 

- Um tolo não tem inteligência bastante para ser bom. 

- A graça é para o corpo o que o bom senso é para o espírito.

- A causa de frequentes desapontamentos na expectativa de gratidão reside em que o orgulho de quem dá  e o de quem recebe nunca concordam no valor da obrigação. 

- Quando o nosso ódio é violento coloca-nos abaixo daqueles que odiamos. 

- Todos falam com elogio do coração, mas ninguém ousa falar assim do seu espírito. 

- A razão é sempre lograda pelo coração.

- A razão não pode substituir muito tempo o coração.

- A fantasia é que dá valor aos presentes da fortuna. 

- A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude. 

- A preguiça, a timidez e a vergonha muitas vezes nos mantém nos limites do dever, ao passo que a virtude parece fugir com honra.

- O ciúme é o maior dos males e o que menos piedade causa àqueles que o ocasionam. 

- O que nos predispõe para acreditar no mal sem examinar o seu fundamento é o orgulho e a preguiça. Estamos sempre prontos para julgar os outros culpados, mas não queremos dar-nos ao trabalho de examinar o fundamento da acusação.

- Prometemos segundo as nossas esperanças e cumprimos segundo os nossos receios.  
.
Pesquisa e postagem: Nicéas Romeo Zanchett  
http://gotasdeculturauniveral.blogspot.com.br  

sexta-feira, 22 de março de 2013

MÁXIMAS - por Sir Artur Helps



                                 MÁXIMAS - por Sir Artur Helps 
Biografia - Sir Artur Helps, literato inglês, nasceu em Sreatham, a 10 de julho de  1813. Tomou grau em Cambridge, no Trinity College. Foi secretário particular do ministro da fazenda e do secretário da Irlanda; mais tarde foi empregado do Conselho Privado. Publicou: "Thoughts in the Cloister and the Crowd" (Pensamentos no Clautro e na Multidão), 1835; "Friends in Council" (Amigos em Conselho), 1847-1859; "The Claims of Labour" (Revindicações do Trabalho) , 1844; "The Conquerors of the New Word and their Bondsmen" (Os Conquistadores do Novo Mundo e seus Fiadores), 1855-1861; biografias de Las Casas, Colombo, Pizarro e Cortez; "Thoughts upon Government"(Pensamentos sobre o govêrno), 1872; "Realmah" 1869; " Talks about Animais and their Masters" (Conversas sobre Animais e seus Donos), 1873; "Social Pressure" (Pressão Social), 1875. Morreu em 7 de Março de 1875. 
Suas máximas: 
- Para grande parte da gente, é maior o passo do sublime ao ridículo, do que aquele que vai do confuso ao sublime, por falta dum conveniente ponto de comparação. Parecem-nos sempre as nuvens muito mais altas do que na verdade são, até ao momento em que as vemos repousar nos ombros das serras. 
.
- É difícil calcular-se o grau de estima que um homem  tem pela intelectualidade de outro, só ao vê-los juntos.  Quanta vêz não se escolhem as mais poderosas inteligências ou os mais finos espíritos, com aparente deferência, perante a vivacidade e energia da mera esperteza; assim Fausto, levado por um estrondoso sofisma, exclama: "Aquele que resolveu ter razão, e não tem senão a língua, há de fatalmente ter razão". 
.
- Os outros logo descobrem os pontos do nosso caráter que lhes dizem respeito; aqueles que diretamente nos interessam, esses deixam-no-los eles descobrir.
.
- Não há razão alguma para vermos com persistente desagrado quem já tenha tido uma medíocre opínião do nosso valor; com efeito, nunca estamos tão seguros de inspirar uma estima duradoura, como quando alguém que nos julgára levianamente, reconhece emfim o seu erro, - se é que erro havia. 
.
-  Amigo é aquele que se não ri, vendo-nos numa situação ridícula. Há quem contradiga esta afirmação, alegando que um homem que tenha a noção do ridículo, não pode deixar de achar graça, embora o seu amigo seja o objeto do ridículo. Não; - só é nosso amigo aquele que nos mostra simpatia e se não junta à multidão.